Prezadíssima Madame,
Eu sou um metrossexual assumido. Desde pequeno gosto muito de me cuidar e, por isso, uso cremes para a pele, só ando de barba feita e bem perfumado. A-do-ro me vestir bem e usar roupas de grifes. Como a minha situação financeira permite, eu nunca descuido do visual. Também me considero uma alma sensível: pratico meditação e ioga, faço poesias, sei cozinhar bem e me interesso por artes plásticas e teatro.
O problema é que, apesar não ser gay, os meus amigos me tratam como se fosse um. Eu até explico que metrossexual não é sinônimo de homossexual, mas não adianta. Eles falam que metrossexual, na verdade, é um novo nome pra "bicha rica" ou "bicha emergente". Ando estressado, deprimido e triste com isso, pois ninguém compreende que sou um homem super-vaidoso e, ao mesmo tempo, que não é gay. O que faço?
Ediglérisson Lucas, por e-meio
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Caro consulente Edi,
Desta vez não usarei os pressupostos freudianos que tanto norteiam minhas consultas. Também não recorrerei aos princípios holísticos e metafísicos que tornaram a minha enigmática e renomada pessoa "A Lenda. O Mito". Tudo isso porque percebo que você precisa, nesse momento, mais de um ombro amigo do que de um aconselhamento profissional. Deixemos as formalidades de lado e conversemos como amigas, como se estivéssemos em meu sofá, tomando aquela xícara de chá inglês Twinings (of course), que você tanto deve apreciar por ser uma pessoa fina e sofisticada.
Não acho que você é gay, Edi. Sei que você está sofrendo por causa do preconceito dos seus amigos, mas acho que você não deveria dar atenção a esses comentários, pois receio que se trata de puro despeito. Sim, porque você é uma criatura meiga, sensível e aberta às novidades do mundo. Isso posto (com toda delicadeza, claro), digo que você deve ignorar tão maldosos comentários e prosseguir na busca incessante do novo creme anti-rugas de alcance profundo. Você não tem culpa da insensibilidade dos seus amigos pé-rapados: eles te invejam porque você sabe a diferença entre as cores sépia e fúcsia. Porque você sabe se vestir na última e, por fim, sabe cozinhar, dom supremo e raro encontrado na espécie masculina. Não dê bola (nem caçapa) para esses seus amigos falsos e deletérios.
Agora, se você deseja acabar com esse stress todo e dar a volta por cima (de preferência usando um belo par de Prada), eu te aconselho a realmente liberar a folha de flandres. Sim, por que qual a mulher que vai se sujeitar a dividir a maquiagem Shiseido, carérrima, com você? Qual a que vai aceitar bem a idéia de você ter menos celulites e estrias que ela? E o seu cabelo cair menos e ter a cutícula mais possante? Claro que nenhuma! É sabido que por causa da testosterona cabelos e unhas masculinas são mais fortes. Saber de tudo isso não é nada! Triste é ver o fato todo dia, enquanto se luta com o pente para domesticar as madeixas ou serrar aquela unha que inventou de quebrar justo quando todas estavam do mesmo tamanho!
E quando você tiver aquele conhecido faniquito feminino chamado "estou sem roupa", mesmo com o closet abarrotado de peças deslumbrantes e quiser pegar emprestado aquele tubinho preto CC (Coco Chanel, ignorantes) que é o coringa que ela usa em qualquer situação de pouca inspiração? Qual vai ser a mulher que vai querer alguém ao seu lado que entenda mais de decapagem, baby-liss, balaiage e mechas negativas do que ela? Qual a criatura do gênero feminino que, em sã consciência, vai tolerar que o companheiro saiba de mais exercícios para enrijecer os glúteos do que o seu personal trainer saradão e natureba?
Pois é, querido Edi, acho que você se encontra numa encruzilhada e, pior, na pele (de pêssego, claro) da própria galinha preta (chiquérrima, porém básica). Mas como você mesmo disse ser um "homem super-vaidoso", não vejo nada de mais em fazermos uma troquinha na posição das duas vogais desse adjetivo superlativizado... Tudo vira, então, uma questão semântica. E você sabe que Semântica é t-u-d-o, não é?
Madame Ke, sua amiga de infância
Madame Ke só não é a Garota de Ipanema porque mora em Boa Viagem.
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