Caríssima Madame,
Eu tenho um amigo que é professor, separado, quase-tiozão, gente boa, e que tem umas das manias mais estranhas que eu já vi: colecionar tatu. Isso mesmo: tatu. Já pensou?
Na casa dele, há tatus de madeira, ferro, plástico, pedra-sabão, entre outros materiais, e de tudo que é tamanho e cor. Quando venta, há uns que balançam o rabinho e, outros, a cabeça. É tatu na estante, no quarto, na sala, na cozinha, até no banheiro! O grande sonho da vida dele é encontrar um tatu de pelúcia pra dormir abraçadinho com ele. Opraí!
Ó inenarrável Madame, que mania da bexiga é essa? Só você pode decifrar este mistério...
Teu eterno fã,
Zé Budega
Eu tenho um amigo que é professor, separado, quase-tiozão, gente boa, e que tem umas das manias mais estranhas que eu já vi: colecionar tatu. Isso mesmo: tatu. Já pensou?
Na casa dele, há tatus de madeira, ferro, plástico, pedra-sabão, entre outros materiais, e de tudo que é tamanho e cor. Quando venta, há uns que balançam o rabinho e, outros, a cabeça. É tatu na estante, no quarto, na sala, na cozinha, até no banheiro! O grande sonho da vida dele é encontrar um tatu de pelúcia pra dormir abraçadinho com ele. Opraí!
Ó inenarrável Madame, que mania da bexiga é essa? Só você pode decifrar este mistério...
Teu eterno fã,
Zé Budega
(Ao som dos clarins de Momo, Madame Ke responde):
Prezado consulente Zé Budega,
Percebo pelo seu interesse de (a)cunho altruísta que você realmente preza essa amizade e se preocupa com o bem-estar do seu amigo.
Antes de qualquer coisa, já que se trata de um cidadão que avança nos anos, previna-o imediatamente sobre o risco de comer tatu. Como já dizia o saudoso filósofo PicaDinho, “Comer tatu é bom, pena que dá dor nas costas.” Isso posto (no sentido agasalhador do termo), diria que essa empreitada exigirá bastante de você, prezado consulente, pois se trata de um distúrbio psíquico bastante grave e raro: constam pouquíssimos casos nos anais, bastante doloridos pelos recorrentes manuseios, da medicina psiquiátrica.
Consciente da sua dura, porém justa (por enquanto...) demanda, muna-se de todo o seu afeto, paciência e perseverança, caro consulente, porque a chapa (não aquela que dorme no copo d´água) vai ferver. Em verdade vos digo e dou fé.
Livrar um indivíduo nessa idade de um vício desse porte não é coisa para amadores, mas sim para iniciados, entendidos como aparenta ser você, prezado Budega. Pois bem, arregace as péias e comece com a parte manual: jogue fora toda essa parafernália de tatus, essa cacarecada toda que só vai agravar mais e mais a enfermidade em questão.
O que conta a seu favor é que dificilmente seu amigo encontrará nas lojas de brinquedos um tatu de pelúcia. Nem a Lionella salva, fio. No entanto, evite que seu amigo vá às feiras livres no interior: aí sim é mais fácil encontrar tatus in natura, empalhados, em telas e em outros formatos que se mostrarão tão ou mais perniciosos quanto os já existentes na coleção do seu parceiro.
Para você ter uma idéia do caráter destrutivo e homofrenético (ui, Leiloca!) dessa doença, revelarei uma informação a qual poucas pessoas têm acesso. Você sabia, José Budega, que o tatu é um animal em cuja ninhada só existem animais do mesmo sexo? Não sabia? Pois é, numa ninhada só haverá machos ou fêmeas, nunca os dois. Essa peculiaridade da natureza revela a incapacidade, desde a tenra infância, de relacionamento com seres do sexo oposto, daí, partindo dos pressupostos freudianos, a explicação para o casamento (suponho que heterossexual) desfeito do seu companheiro.
Por mais difícil que essa moléstia se apresente, caro Zé, não desista. O seu empenho em tirar o seu amigo dessa vida maníaco-depressiva logrará êxito porque não há nada que o amor, a fraternidade entre amigos e a ternura de um bafo quente na nuca não possam superar. Como diria o filósofo contemporâneo Tonho da Manjuba, “É dando que se recebe, não adianta reclamar depois!”.
Percebo pelo seu interesse de (a)cunho altruísta que você realmente preza essa amizade e se preocupa com o bem-estar do seu amigo.
Antes de qualquer coisa, já que se trata de um cidadão que avança nos anos, previna-o imediatamente sobre o risco de comer tatu. Como já dizia o saudoso filósofo PicaDinho, “Comer tatu é bom, pena que dá dor nas costas.” Isso posto (no sentido agasalhador do termo), diria que essa empreitada exigirá bastante de você, prezado consulente, pois se trata de um distúrbio psíquico bastante grave e raro: constam pouquíssimos casos nos anais, bastante doloridos pelos recorrentes manuseios, da medicina psiquiátrica.
Consciente da sua dura, porém justa (por enquanto...) demanda, muna-se de todo o seu afeto, paciência e perseverança, caro consulente, porque a chapa (não aquela que dorme no copo d´água) vai ferver. Em verdade vos digo e dou fé.
Livrar um indivíduo nessa idade de um vício desse porte não é coisa para amadores, mas sim para iniciados, entendidos como aparenta ser você, prezado Budega. Pois bem, arregace as péias e comece com a parte manual: jogue fora toda essa parafernália de tatus, essa cacarecada toda que só vai agravar mais e mais a enfermidade em questão.
O que conta a seu favor é que dificilmente seu amigo encontrará nas lojas de brinquedos um tatu de pelúcia. Nem a Lionella salva, fio. No entanto, evite que seu amigo vá às feiras livres no interior: aí sim é mais fácil encontrar tatus in natura, empalhados, em telas e em outros formatos que se mostrarão tão ou mais perniciosos quanto os já existentes na coleção do seu parceiro.
Para você ter uma idéia do caráter destrutivo e homofrenético (ui, Leiloca!) dessa doença, revelarei uma informação a qual poucas pessoas têm acesso. Você sabia, José Budega, que o tatu é um animal em cuja ninhada só existem animais do mesmo sexo? Não sabia? Pois é, numa ninhada só haverá machos ou fêmeas, nunca os dois. Essa peculiaridade da natureza revela a incapacidade, desde a tenra infância, de relacionamento com seres do sexo oposto, daí, partindo dos pressupostos freudianos, a explicação para o casamento (suponho que heterossexual) desfeito do seu companheiro.
Por mais difícil que essa moléstia se apresente, caro Zé, não desista. O seu empenho em tirar o seu amigo dessa vida maníaco-depressiva logrará êxito porque não há nada que o amor, a fraternidade entre amigos e a ternura de um bafo quente na nuca não possam superar. Como diria o filósofo contemporâneo Tonho da Manjuba, “É dando que se recebe, não adianta reclamar depois!”.
Atenciosamente,
A Divina, Etérea e Incomensurável,
Madame Ke, A Lenda, O Mito.
Madame Ke é uma personagem mítica, diáfana e refratária que desvenda os mistérios e segredos do ser humano com a graça e a ternura de que apenas as Deusas são capazes.
Mandando o politicamente correto às favas, abra seu coração! Pergunte que Madame responde.
Mandando o politicamente correto às favas, abra seu coração! Pergunte que Madame responde.
Réplica de Zé Budega:
Caríssima Madame,
Tá me estranhando, é?
Apesar de ser um bicho muito do peba, eu sou que nem eles, os tatus: gosto de escavacar buraco, não de ser escavacado! E não é em qualquer buraco que me meto não, ó!
Zé Budega