Prezada Madama,
Tenho um cumpade meu, médico inféquitologista (aquele que cuida de doenças que a gente pega fazendo séquiço) que mora em outro estado. Toda vez que passo pela cidade dele, ele tem algum problema e, por conta disso, nunca pode se encontrar comigo. Ele diz que tá de plantão, vai viajar, tá fazendo um curso, tá com caganeira, um parente bateu as botas etc.
Isso não acontece só comigo, mas com outros amigos comuns que temos. Por isso, ele virou um amigo virtual.
Será que ele pensa que nós semo mundiça e, por isso, não quer receber a gente? O que acontece? Tenho que marcar audiência com a autarquia?
Eu sou pobre, mas sou limpinho...
Ajuda aí!
Zezim das Mariola
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Caríssimo consulente Zezim das Mariola,
Depois de muito tempo meditando a respeito de tão perturbadora situação, cheguei a uma conclusão assaz surpreendente e bombástica.
Procure retirar dos seus ombros quaisquer vestígios de culpa, pois o comportamento do seu amigo, agora virtual, não tem nada a ver com a sua pessoa. Aliás, tem, mas não da maneira como você está realizando.
Na verdade, seu amigo se submeteu (oh, novidade!) a uma delicada cirurgia de mudança de sexo. Agora é conhecida em sua cidade como Dra. F. de Alcácer-Quibir, médica infectologista e mulher. Aproveitando a revolução a que a sua vida foi submetida (aí no sentido fálico do termo), resolveu legalizar a situação civil com o negão Apolinário Pé- de- Mesa, com quem vivia maritalmente há sete anos.
Portanto, prezado consulente, não critique nem se sinta excluído pelo (a) companheiro (a), apenas ofereça sua solidariedade e compreensão porque o caso não tem mais volta.
Atenciosamente e ainda bêbada de champã,
Mme. Ke
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Madame Ke é uma dinastia da sabedoria holística. É um caminhão carregado de livros de Freud, Lacan e Jung.